SEGUIDORES

18 de novembro de 2006

Luandino não pára




Definitivamente… Luandino Vieira já não pára.

A 23 de Novembro corrente será lançado o álbum ilustrado, infanto-juvenil, A Guerra dos Fazedores de Chuva com os Caçadores de Nuvens, Guerra para Crianças.


«Uma estória de guerras, para crianças. Estória e não história, porque a narrativa é como um mussosso tradicional angolano. E as guerras são o confronto da natureza com a tecnologia. Ou dos donos da terra com os de fora da terra. Ou dos invadidos com os invasores. Dos oprimidos com os opressores.
A solução deste conflito vem da natureza quando os jacarés tomam partido. Ouçamos, no final, a fala do grande chefe Kibaia:
«Disse: Só as crianças podem ser ao mesmo tempo vítima, testemunha, juíz e carrasco;».

E, como uso em fecho de narrativa para crianças, uma moral: na dúvida, sempre a favor dos oprimidos.»

fonte:

3 de novembro de 2006

Até ao Sabugo

Dão outros, em verso, outras razões,
Quem sabe se mais úteis, mais urgentes.
Deste, cá, não mudou a natureza,
Suspensa entre duas negações.

Agora, inventar a arte e maneira
De juntar o acaso e a certeza,
Leve nisso, ou não leve, a vida inteira.
Assim como quem rói as unhas rentes.



José Saramago
“Os Poemas Possíveis”


Retrato do Poeta Quando Jovem

Há na memória um rio onde navegam

Os barcos da infância, em arcadas

De ramos inquietos que desprezam

Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado

No silêncio da lisa madrugada,

Ondas brandas se afastam para o lado

Com rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,

À hora que mais conta duma vida,

Um acordar dos olhos e do tacto,

Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto

Que do fundo rompeu desta memória,

E tudo quanto é rio abre no canto,

Que conta do retrato a velha história.


José Saramago
“Os Poemas Possíveis”

Amanhecer na Katumbela

Ao João Maria Vilanova
- ao nosso reencontro


Kukiou o dia
no canto de um passarinho do muxitu
Ouvi

e sem depressa
como quem sonha inda

vi

no Katumbela rio-sacarino
minha mangonha
canoa nas águas lentas
A sensação
de nenhum tempo

Estar

E olhei a planície o vale
lugar onde o canavial é dono
é posse
o seu silêncio
coisas homens
numa canção de abandono

E não ouvi demais
que o canto da madrugada
tinha a voz murmúrio de kaxexe

Apenas e
lentamente
renascia em mim um novo sono

Então com de repente
despertei


Arnaldo Santos
"Poemas no Tempo"

2 de novembro de 2006

Arnaldo, Luandino e Saramago

A Editorial Caminho acaba de editar três obras de autores de Língua Portuguesa, disponíveis nas livrarias portuguesas a partir de 9 de Novembro.




De Rios Velhos e Guerrilheiros - O Livro dos Rios
de José Luandino Vieira


“Primeiro volume de uma trilogia subordinada ao título De Rios Velhos e Guerrilheiros, nele reencontramos a «voz» inconfundível do autor na quebra da sintaxe convencional, na presença de neologismos, na incorporação de expressões em quimbundo, para mencionarmos apenas algumas das marcas essenciais da escrita e da obra de José Luandino Vieira. Contenção e transbordamento – o rio e as suas margens – reflectem-se nestas páginas em que se projecta a história recente de Angola, mas não só. É também de outras crises que O Livro dos Rios se ocupa, abismos de contemporaneidade e problemas que desde tempos imemoriais têm envolvido o homem e mobilizado os grandes escritores.”

O restante da trilogia:
II O Livro dos Guerrilheiros
III O Livro de Ela e os Velhos



O Vento que Desorienta o Caçador
de Arnaldo Santos


“Apanhado de surpresa entre dois factos que representam uma ruptura na história do povo angolano independente (o Acordo de Bicesse, entre o MPLA e a UNITA, e as primeiras eleições multipartidárias), um grupo de jovens, sobreviventes de uma longa guerra, procura o modo de fazer face à incerteza que se instala nesse momento.
De origens diversas, de experiências diferenciadas, todos sentem, porém, que a solução para as suas vidas futuras se jogará naqueles momentos de pausa. O sentido mais agudo é, assim, o da urgência. Embarcam então no que, ao tempo, se perfilava como uma solução imediata: o garimpo de diamantes, a camanga...
Motivações, intrigas e pressentimentos iluminam essa urgente busca de riqueza como salvação de suas vidas soltas repentinamente pelo cessar da guerra. Mas no interior das personagens vai-se desenvolvendo também o inevitável confronto das suas acções com as suas consciências, das suas necessidades com seus valores.
O Vento Que Desorienta o Caçador é, afinal, o desatado vento da História soprando, indiferente, sobre a efémera vida dos homens.” José Luandino Vieira


As Pequenas Memórias
de José Saramago


As Pequenas Memórias é um livro de recordações que abrange o período entre os quatro e os quinze anos da vida de José Saramago. O autor tinha As Pequenas Memórias na cabeça há mais de 20 anos, por isso a altura para o escrever era esta: "Queria que os leitores soubessem de onde saiu o homem que sou".

fonte:

19 de setembro de 2006

Crónica da Rua 513.2


João Paulo Borges Coelho *


A que título o autor deu este topónimo à rua que trata **, confesso que não sei, mas admito que ela seja, metaforicamente, uma décima milionésima parte da unidade que, bem ou mal, a relaciona com o remanescente do país moçambicano. Porque nela ocorre de tudo, entre o passado e o presente, com fantasmas à mistura. Digo fantasmas ou seres imaginários, na medida em que Moçambique, enquanto país livre, não nasceu do nada. A anteceder tal estatuto, teve por esteio séculos de colonização portuguesa, com os quais ainda hoje dialoga, aceitando-os ou repudiando-os, consoante os critérios do momento e as autoridades que os estabelecem.

Aqui chegado, confesso que não conheço a obra do autor para além do que a badana deste livro regista, dando-o como romancista de mais quatro títulos de ficção. Todavia, se me é permitida a ousadia, dou-o, desde já, como um excelente criador de personagens e de aspectos de vida colectiva.

Algumas das figuras por si criadas neste romance, após leitura, facilmente se instalam na nossa memória, não como tipos, mas como veras figuras humanas envolvidas e revolvidas pelo circunstancial, sem nunca, contudo, deixarem de ser quem são, de permanecerem vinculadas às suas específicas idiossincrasias.

Aparentemente, a rua 513.2 é uma rua como as outras. Tal como são os seus moradores, gente que vive melhor ou pior: uns, porventura, saudosos do passado e do prestígio e mando que exerceram; outros, cívica e politicamente em fase emergente, crentes de um futuro e adeptos da revolução que o anuncia.

Todos, contudo, se apresentam não muito seguros dos dias que lhes cabem, motivo pelo qual vivem em estado de existência pícara, recheada de pequenas artimanhas, quanto mais não seja porque cada dia vivido não carreia em si transformação que se veja. De forma que, como sempre desde que o mundo é mundo, cada um tem de se desunhar como pode para sobreviver ou para usufruir de um estatuto.

Ora, neste desunhar e neste sobreviver, se dá o relato da aventura de cada um, no geral sob a forma picaresca, a descoberto ou em segredo, valendo o todo por um imenso painel sociológico da condição actual de se ser moçambicano – pelo menos assim o creio! O que, diga-se de passagem, não ocorre por acaso, tendo em conta que João Paulo Borges Coelho é professor de História Contemporânea de Moçambique, na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. E já agora, mais acrescento: nasceu no Porto em 1955, conquanto possua a nacionalidade moçambicana.

Que vale isto no contexto, ao certo, não sei. Sei sim que este romance, pelo domínio da língua e das situações que relata e mais pelo tempero da fina e humana ironia com que é dotado, se situa muito acima do que vulgarmente nos é dado a conhecer.



P.S.
Já depois de ter elaborado esta breve recensão, colhi a notícia de que o autor foi laureado com o Prémio Craveirinha de Literatura (2005), na condição de criador do romance “As Visitas do Dr. Valdez”, instituído pela Associação de Escritores Moçambicanos, o qual, julgo, se mantém inédito em Portugal.***

João Paulo Borges Coelho. Crónica da Rua 513.2, Editorial Caminho, Lisboa, 2006.

Ramiro Teixeira

in
18.09.2006


* João Paulo Borges Coelho nasceu no Porto, em 1955, mas adquiriu nacionalidade moçambicana. É historiador. Ensina História Contemporânea de Moçambique e África Austral na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, e, como professor convidado, no Mestrado em História de África da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tem-se dedicado à investigação das guerras colonial e civil em Moçambique, tendo publicado vários textos académicos em Moçambique, Portugal, Reino Unido, Espanha e Canadá. As Duas Sombras do Rio é a sua primeira obra de ficção.

http://html.editorial-caminho.pt


** João Paulo Borges Coelho. Crónica da Rua 513.2, Editorial Caminho, Lisboa, 2006.


***
As Visitas do Dr Valdez já foi editado em Portugal, pela Editorial Caminho, em 2004.

14 de setembro de 2006

... o Pato Donald comeu a Margarida


João Melo


Esta é a segunda vez que comento um livro de João Melo, escritor e fundador da União dos Escritores Angolanos, ao que acrescenta a condição de deputado à Assembleia Nacional.

Na versão primeira ocupei-me de “Filhos da Pátria”, um outro livro de contos, salientando especialmente a atitude de gozação que o caracterizava, através de bem conseguidas histórias com registos afins à exteriorização verbal pela ironia, pelo pícaro e pela verrina, as quais nos davam a conhecer o universo angolano dos dias de hoje nas suas mais dispares vertentes.

Pela leitura deste novo título * só posso reafirmar o que disse do anterior. Na verdade, este livro não se distingue do antecedente, pois que reflecte a mesma visão desencantada sobre aspectos político-sociais do universo angolano, à mesma com a mais valia de os denunciar sob a forma irónica e pícara – a começar logo pelo conto que dá o título ao volume, que é, porventura, um modelo de tal género. Ou não seja o engatatão desta história um mal logrado conquistador duma Margarida que acaba em pato depenado...

Como todos sabemos, a literatura primitiva dos povos africanos é rica em tradição oral e em aspectos etnográficos. No caso de Angola, desde cedo foi dado adivinhar o sentido mítico das suas histórias e lendas em percurso acelerador para a compreensão das suas estruturas sociais, motivo pelo qual, pesem embora as contingências epocais, a obra de Castro Soromenho é deveras importante. É claro que o tempo e o género das narrações de Castro Soromenho não podiam deixar de estar, como estavam, infectadas pelo vírus colonialista. Mas nem por isso deixaram de se revelar como veros documentos de interpretação dos desajustamentos das relações sociais e humanas entre brancos e negros.

A meu ver, perto ou mais de cinquenta anos passados, João Melo recria o mesmo tipo de desajustamentos e de prenúncio de tempos instáveis, não entre brancos e negros, mas entre as diversas etnias negras, divididas, para mais ou para menos, em correspondentes facções políticas e com uma diferença que não é de somenos: a de tudo relatar sem recurso ao dramático, antes, e com que talento!, recorrendo à ironia para caracterizar a vivência quotidiana do angolano em seus diversos estamentos sócio-políticos.

Assim, por esta via, sem traumas nem saudosismos, dá-nos João Melo um curioso e bem humorado retrato da vivência do povo angolano, independentemente da categoria social de cada um, ainda que sempre determinado pelas mais ou menos valias que o enquadram nessa mesma sociedade. Isto permite-lhe aparentar-se com a ramalhal figura de Ortigão, obviamente no farpear que as suas intenções transportam, motivo pelo qual as suas histórias são mais crónicas de verrina do que verdadeiramente narrativas literárias.

Ramiro Teixeira

in
11.09.2006


*João Melo. O Dia em que o Pato Donald comeu pela primeira vez a Margarida, Editorial Caminho, Lisboa, 2006.

30 de junho de 2006

Poema I

Amanhã
Quando eu morrer,
Eu quero ser enterrado
Virado para oriente
De pé, braços cruzados,
À espera que nasça o Sol;

Quer seja enterro falado
(Um enterro burguês a valer),
Quer seja de pobre-diabo
Eu quero ficar assim:
De pé, braços cruzados,
À espera que nasça o Sol!


António Cardoso
"Poemas de Circunstância (1949-1960)"

O Amanhã Será Nosso

Nem as grilhetas nos pés
Nem as algemas nos pulsos
Nem a voz abafada
Por este falso céu que nos comprime
Será capaz de impedir
Este grito potente
De Homem com raízes de chão:

O Amanhã será nosso
Porque é nossa a razão!


António Cardoso
"Poemas de Circunstância (1949-1960)"

Diálogo com Paul Eluard

ao meu filho João


Tempo, corre depressa
Ao assalto dos muros que barram
Os caminhos e as palavras.

E a onda do tempo avassaladora,
Correu, correu, rodopiou à volta do mundo
E venceu todos os Muros picados de balas!

Venceu?

Vencerá ainda, porque há Sol todos os dias
E a Madrugada é infinda!


António Cardoso
"Poemas de Circunstância (1949-1960)"

Construção Civil

Não foi prever em vão tanto sonhar
Como nunca ficou só reduzido
A palavras, o quanto foi vivido:
Dos sonhos e actos meço o caminhar

E das palavras, rumo a fabricar...
Nem é por mim que luto repartido,
Mas também estarei no prometido
Futuro que nos há-de realizar...

Se sonho, falo, avanço, o muito, o pouco,
Feito passos da vida em tom agudo,
Foi argamassa e pedra no cabouco

Duma casa inventada para escudo,
Tendo como ético tom... só rebouco
Desta sanguínea cor que pus em tudo!...


António Cardoso
"21 Poemas da Cadeia"

Árvore Subversiva

Nasceu uma árvore no meio da rua!
E veio um polícia e não sabia o que fazer.
E veio gente que não compreendia.

O polícia foi à Esquadra
E participou ao chefe.

- Corte-se a árvore
E avise-se a Natureza
Que não admitimos quebra de disciplina
Numa pacata cidade burguesa!


António Cardoso
"Poemas de Circunstância (1949-1960)"

É Preciso Construir um Mundo Melhor

Os nervos torcidos
O coração destroçado no naufrágio da vida:
Mar negro a vida, sem escolhos que firam mas que firmem.
Bem sei que há sol que há luz
E que as flores amanhã serão vermelhas, azuis, de qualquer cor...
Bem sei que feia ou dura
A vida é para se viver.
Mas sei de uma maneira vazia
Como o olhar vidrado de um morto.

Cortem-me o corpo a chicote
Ou crivem-me de baionetas
A verdade é esta, em palavras secas:
É preciso construir um mundo melhor!


António Cardoso
"Poemas de Circunstância (1949-1960)"

Poema Panfletário

Duras serão as pedras no chão que pisaremos.
Por serem duras é que abandonei
Os caminhos movediços
Deste mundo em agonia...

Suaves serão as palavras que falaremos.
Por serem suaves é que abandonei
Os caminhos movediços
Deste mundo em agonia...

Pedras e palavras: certas, necessárias
Duras, suaves e seguras.
E uma casa nova.
E caminhos novos de alegria...


António Cardoso
"Poemas de Circunstância (1949-1960)"

Extroversão de Um Introvertido

Este poema seria um poema triste
Se não fosse impossível d'escrever;
Teria a tessitura do que existe
Na lágrima que não pode nascer...

Mas mágoa, interior, um quase nada,
Não é literatura pra dizer...
Toda a dor funda e aguda é bem calada,
Enfim, no mundo há muito que fazer...

Portanto, o que interessa é o que afirmo
Construindo-me: a vida tem seu rumo
Lançado: meus irmãos querem calor...

Se errei ou não, mas sempre de pé, dir-mo-á
Esta vida jogada. O sol a prumo,
Futuro, que em mim teço, é construtor...



António Cardoso
"21 Poemas da Cadeia"

Aviso

Não se iludam:
Eu sou um gajo magro
E até baixo,
Pouco para desfazer...
Mas cuidado com o verde
A nascer
À superfície de mim
Depois de enterrado


António Cardoso
"5 poemas escritos
no Campo de Concentração do Tarrafal"
África nº 3

Conhecer António Cardoso



Textos Dispersos de António Cardoso

5 poemas escritos no Tarrafal. África – Literatura, Arte e Cultura, Vol. I, nº 3, Ano I, Lisboa, Janeiro/Março 1979, p. 292


Diversos



CARDOSO, Pedro
As circunstâncias e os poemas de António Cardoso

COSTA, Humberto Baptista da
Em Memória de António Cardoso

ERVEDOSA, Carlos
Roteiro da Literatura Angolana. Sociedade Cultural de Angola, Luanda, 1974, p. 101.

FERREIRA, Manuel
Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa. Vol. II, MEIC/Secretaria de Estado da Investigação Científica, Biblioteca Breve vol. 7, Lisboa, 1977, pp. 29/30.

GOMES, Beto
Poesia Africana de Expressão Portuguesa

Jornal de AngolaAntónio Cardoso homenageado em Luanda

KANDJIMBO, Luís
Esboço para uma Bibliografia da Ficção Literária Angolana

LARANJEIRA, Pires
1.
Antologia da Poesia Pré-Angolana (1948-1974). Edições Afrontamento, Porto, 1975. pp.16/22 e 64.
2. Três Poetas em Qualquer Circunstância. JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, Lisboa, 20 Agosto 2003.

SanzalAngolaLiteratura – António Cardoso


União de Escritores Angolanos
1. Antologia
2. António Cardoso oferece ”Poemas de Circunstância”
3. Biografia
4. Lavra & Oficina, Caderno Especial em saudação à VI Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos. UEA, Luanda, 1979. pp. 24/26.
5. Morreu António Cardoso



António Cardoso. BioBibliografia




ANTÓNIO Dias CARDOSO nasceu a 8 de Abril de 1933 em Luanda, onde fez os estudos liceais.

Foi empregado bancário e comercial e exerceu funções na secretaria da ANANGOLAAssociação dos Naturais de Angola.

Pertenceu à direcção da Sociedade Cultural de Angola.

Foi um dos fundadores do Cine Clube de Luanda.

Passou 3 anos nas cadeias de Luanda (foi preso pela PIDE em 1959 e em 1961, por duas vezes) e 10 no Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, de onde foi libertado a 1 de Maio de 1974.

Após a libertação foi presidente do Directório do MDA - Movimento Democrático de Angola, tendo sido integrando no MPLA em 1975; foi eleito para a primeira comissão directiva provincial deste Movimento em Luanda, director do Centro de Investigação Histórica do Comité Central e do jornal Progresso, então o seu órgão oficial.

Exerceu a actividade de jornalista da imprensa escrita e falada: dirigiu os serviços de informação da Emissora Oficial de Angola (Rádio Nacional de Angola), responsável pela página literária Resistência do Diário de Luanda e trabalhou na, então, Secretaria de Estado da Cultura.

É membro fundador da UEA - União de Escritores Angolanos.

A sua estreia literária deu-se no boletim Estudante, órgão dos alunos do Liceu Salvador Correia.

Publicou também na revista Mensagem, da Anangola.

Está incluído em várias antologias e revistas de Angola, Brasil, Moçambique e Portugal, para citar apenas os paises de expressão portuguesa. A grande maioria da sua obra foi escrita na cadeia, estando inédita uma boa parte do seu acervo literário.

Faleceu em Lisboa, a 25 de Junho de 2005, após doença prolongada.



BIBLIOGRAFIA

S. Paulo, (poesia) caderno colectivo da colecção Imbondeiro, 1960
Poemas de Circunstância, 1961
Panfleto, (poesia) 1979
21 Poemas da Cadeia, 1979
Economia Política (Poética) , 1979
A Fortuna - Novela de amor, 1980
Baixa & Musseques, (contos) 1980
A casa de Mãezinha - Cinco Histórias Incompletas de Mulheres, (novela) 1980
Lição de Coisas, (poesia) 1980
Nunca é Velha a Esperança, (poesia) 1980
Chão de Exílio, (poesia) 1980
Poemas de Circunstância (1949-1960), 2003


admário costa lindo

29 de junho de 2006

Lição de Moral

Se não acreditasse no Homem
E num futuro melhor,
Deixaria que o monstro de ferro me matasse
Num suicídio banal.
Se não acreditasse noutro Sol de outra Manhã
Dum outro Amor,
Já o Mar salgado, enorme,
Me teria levado a descansar…

Traz as tuas mãos, irmão,
Junta a tua dor à minha
Fome de viver sem algemas
E caminha.

Caminhemos…


António Cardoso
“Poemas de Circunstância (1949-1960)”

26 de junho de 2006

Estrada

Luanda Dondo vão,
cento e tal quilômetros

mangas e cajus
marcos brancos
meninos nus

Branco algodão
crescendo
corpos negros
na cacimba

O Lucala corre
confiante
indiferente à ponte que ignora

Verdes matas
Sangram vermelhas acácias
imbondeiros festejam
o minuto da flor anual

Na estrada
o rebanho alinha
pelo verde
verde capim

Adivinhados
caqui lacraus
de capacete giz
trazem a morte

Meninos
se embalam
em mães velhas
de varizes:

Rios azuis
da longa estrada

E é fevereiro
sardões ao sol
Cassoalala

Eia Mucoso
tão cheio agora
Adivinhados
permanecem
lacraus caqui
capacetes giz

Não param as colheitas

Que razão seriam
fevereiro
acácias sangrando vermelho
verdes sisais
cantando o parto
da única flor?

Não param as colheitas!



Luandino Vieira
in
- No reino de Caliban II - Antologia Panorâmica de Poesia Africana de Expressão Portuguesa

Canção para Luanda

A pergunta no ar
no mar
na boca de todos nós:
- Luanda onde está?

Silêncio nas ruas
Silêncio nas bocas
Silêncio nos olhos

- Xê
mana Rosa peixeira
responde?

- Mano
Não pode responder
tem de vender
correr a cidade
se quer comer!

"Ola almoço, ola almoçoéé
matona calapau
ji ferrera jiferrerééé"

- E você
mana Maria quitandeira
vendendo maboque
os seios-maboque
gritando
saltando
os pés percorrendo
caminhos vermelhos
de todos os dias?
"maboque, m'boquinha boa
dóce dócinha"

- Mano
não pode responder
o tempo é pequeno
para vender!

Zefa mulata
o corpo vendido
batom nos lábios
os brincos de lata
sorri
abrindo o seu corpo
- seu corpo-cubata!
Seu corpo vendido
viajado
de noite e de dia.
- Luanda onde está?

Mana Zefa mulata
o corpo-cubata
os brincos de lata
vai-se deitar
com quem lhe pagar
- precisa comer!

- Mano dos jornais
Luanda onde está?
As casa antigas
o barro vermelho
as nossas cantigas
trator derrubou?

Meninos das ruas
caçambulas
quigosas
brincadeiras minhas e tuas
asfalto matou?

- Manos
Rosa peixeira
quitandeira Maria
você também
Zefa mulata
dos brincos de lata
- Luanda onde está?

Sorrindo
as quindas no chão
laranjas e peixe
maboque docinho
a esperança nos olhos
a certeza nas mãos
mana Rosa peixeira
quitandeira Maria
Zefa mulata
- os panos pintados
garridos
caídos
mostraram o coração:
- Luanda está aqui!




Luandino Vieira
in
- Antologia Temática de Poesia Africana, I – Na Noite Grávida de Punhais
- No reino de Caliban II - Antologia Panorâmica de Poesia Africana de Expressão Portuguesa

Sons

A guitarra
é som antepassado

Partiram-se as cordas
esticadas pela vida.

Chorei fado.

Que importa hoje
se o recuso:

o ngoma é o som adivinhado


Luandino Vieira
in
- No reino de Caliban II - Antologia Panorâmica de Poesia Africana de Expressão Portuguesa

Conhecer Luandino




Textos dispersos de Luandino Vieira

1. Depoimento … uma impressão tão forte que faz parte duma estória futura… África – Literatura, Arte e Cultura, Vol. I, nº 1, Ano I, Lisboa, Julho 1978, p. 11

2. Abóboras, jindungo, tomate. África – Literatura, Arte e Cultura, Vol. I, nº 1, Ano I, Lisboa, Julho 1978, p. 15

3. Duas Meias Palavras. Prefácio de “O Feitiço da Rama de Abóbora”, Tchikakata Balundu, Campo das Letras, Porto, 1996.


Diversos

AngoNotícias
José Eduardo Agualusa refere distinção

Apostolado, OLuandino Vieira, Prémio Camões 2006

BEBIANO, Deize Pereira
Língua Portuguesa e Identidade Nacional em José Luandino Vieira

BEZERRA, M. A. Antony C.Linguagem e Luta em “Vidas Novas”

Boletim Africanista
Luandino Vieira regressa com novo romance

Diário de Notícias
Trinta Vultos que merecem as novas páginas da História 11.11.2005
O angolano Luandino Vieira vence Camões 2006 20.05.2006
“Luuanda” e a extinção da Sociedade de Escritores 20.05.2006
Luandino Vieira reccusa Camões por ”razões pessoais” 25.05.2006

Editorial Caminho
Notas e recensões:
NossoMusseque
A Vida Verdadeira de Domingos Xavier
Nós, os de Makulusu
João Vêncio: os Seus Amores
Luuanda
No Antigamente, na Vida
Macandumba
Velhas Estórias

ERVEDOSA, CarlosRoteiro da Literatura Angolana. Sociedade Cultural de Angola, Luanda, 1974, p. 100

FARIA, Joana Daniela Martins Vilaça deMia Couto – Luandino Vieira: uma leitura em travessia pela escrita criativa

FERNANDES, FerreiraO Homem que disse Não

FERREIRA, CarlaTese de Mestrado sobre Luandino Vieira

FERREIRA, ManuelLiteraturas Africanas de Expressão Portuguesa. Vol. II, MEIC/Secretaria de Estado da Investigação Científica, Biblioteca Breve vol. 7, Lisboa, 1977, pp. 26, 55 e 102

FREITAS, Ednéia da Silva Faria e Izabel Maria deDois poetas mussequeiros contam suas belezices

GARCIA, José Martins
Luandino Vieira: O anti-apartheid. Colóquio Letras nº 22, Lisboa, Novembro 1974, p. 43.

GOMES, Fernando Cruz
A Glória do autor de ”Luuanda”

HEITOR, JorgeUma Estória Picaresca da Luanda Colonial. Público.pt, edição online, 24.07.2004

Instituto Português do Livro e das BibliotecasBibliografia Activa
Bibliografia Passiva
Biografia
Dicionário Cronológico de Autores Portugueses
Excertos de Obras
Obras traduzidas
Prémio Camões 2006
Prémios

Jornal de Angola
Língua e identidade em Luandino Vieira
Luandino Vieira lança ”Nosso Musseque”
“Nosso Musseque” traz o nascimento da personalidade
Luandino Vieira nega Prémio Camões

KANDJIMBO, LuísEsboço para uma Bibliografia da Ficção Literária Angolana
O Exercício diferencialista da linguagem…
Verbetes de Escritores Angolanos

LARANJEIRA, Pires
1
. Luandino e Vilanova, Felizes reedições. JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, 4-17 Agosto 2004, p. 20
2. Luandino, Pepetela e Ruy Duarte de Carvalho, Três reedições felizes. JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, 19 Janeiro-1 Fevereiro 2005, p. 18

Librairie Compagnie
Les dossiers bibliographiques

Luanda Digital
Macandumba (recensão)

A Página da Educação
O Regresso de Luandino

Nova CulturaA Vida Verdadeira de Domingos Xavier e Nosso Musseque (excerto e recensão)

Prof2000
Abordagem sucinta da estória Vavó Xixi e seu neto Zeca Santos
Luuanda – Obra de Transição
Marcas de Africanidade

Público
1. Nove autores lusófonos nos 100 mais do continente africano. Edição online 27.07.2002, Cultura, Livros.
2. Prémio Camões 2006 : Luandino Vieira "teve um papel fundador na reinvenção da língua". 19.05.2006.
3. Luandino Vieira rejeita Prémio Camões 24.05.2006.

RODRIGUES, Urbano Tavares
Crítica literária de «Macandumba». África – Literatura, Arte e Cultura, Vol. I, nº 3, Ano I, Lisboa, Janeiro-Março 1979, p. 342

ROSA, Patrícia Simões OliveiraA Palavra em Liberdade

SÁ, Ana Lopes deLuanda literária a várias cores: O tema do racismo em Luandino Vieira e Uanhenga Xitu

SANTA CRUZ, Maria de
Luandino e a “Maka” de Babel. in Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Fundação Calouste Gulbenkian/Acarte, Lisboa, 1987, p.205.

SANTOS, SeomaraA Construção da Identidade Nacional Angolana

SILVA, Patrícia Soares
Afirmação de uma real identidade angolana

União de Escritores AngolanosBiografia
Nas Makas discute-se tudo
Excertos:
Lourentinho Dona Antónia de Sousa Neto e Eu
No Antigamente, na Vida
VelhasEstórias

VOZ DI POVO
Prémio Camões 2006 para angolano José Luandino Vieira



admário costa lindo

20 de maio de 2006

Luandino Vieira. BioBibliografia





Luandino Vieira ou José Luandino Vieira, poeta, contista e tradutor é o pseudónimo literário de José Mateus Vieira da Graça, nascido em Lagoa do Furadouro a 4 de Maio de 1935. Com três anos de idade foi para Angola com seus pais. Aí fez os estudos liceais, tendo seguido então a carreira comercial que culminou como gerente comercial. Foi preso pela Pide em 1959 e novamente em 1961, condenado a 14 anos de prisão por alegadas ligações ao MPLA. Em 1963 foi desterrado para o Tarrafal, em Cabo Verde. Libertado em 1972 foi para Lisboa onde passou a viver em regime de liberdade condicional e sob residência fixa. Voltou a Angola em 1975. Vive actualmente em Portugal.

Assina também como José Graça e José Muimbu.

Foi director da Televisão Popular de Angola (1975-1978), dirigiu o Instituto Angolano de Cinema (1979-1984), secretário-geral da União de Escritores Angolanos (1975-1980), secretário-geral adjunto (1979-1984) e secretário-geral (1984-1989) da Associação dos Escritores Afro-asiáticos.

A atribuição do Grande Prémio de Novelística, em 1965, à sua obra Luuanda, provocou a destruição da sede da Sociedade Portuguesa de Autores e a sua posterior ilegalização.

COLABORAÇÕES:

Estreou-se na revista Mensagem da Casa dos Estudante do Império, em 1950. Voltou a escrever para esta revista (1961-1963) e outras publicações acolheram a sua colaboração: O Estudante (Luanda, 1952), Cultura (Luanda, 1957), Boletim Cultural do Huambo (Nova Lisboa, 1958), Jornal de Angola (Luanda, 1961-1963), Jornal do Congo (Carmona, 1962), Vértice (Coimbra, 1973) e Jornal de Luanda (1973).

BIBLIOGRAFIA:

A Cidade e a Infância (1957)
Duas Histórias de Pequeno Burgueses (1961)
I Canção ao Mar (1961)
Vidas Novas (1962)
Luuanda (1963)
Velhas Estórias (1974)
A Vida Verdadeira de Domingos Xavier (1974)
No Antigamente na Vida (1974)
Nós, os do Makulusu (1974)
Duas Estórias (1974)
Macandumba (1978)
João Vêncio, os Seus Amores (1979)
Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto & Eu (1981)
Estórias da Baciazinha de Quitaba (1986)
Kapapa: Pássaros e Peixes (1998)

De Rios Velhos e Guerrilheiros –
I O Livro dos Rios (2006)
II O Livro dos Guerrilheiros (2009)
III O Livro de Ela e os Velhos (ainda não publicado)



PRÉMIOS:


Sociedade Cultural de Angola (1961)
Casa dos Estudantes do Império (1961)
Prémio João Dias (1962) – Vidas Novas
Associação dos Naturais de Angola (1963)
Prémio Mota Veiga (1963) - Luuanda
Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Autores (1965) - Luuanda
Pémio Camões (2006)


admário costa lindo
transferido da página inicial do Angola Haria, onde foi editado a 29.01.2006

última revisão: 19.11.2009