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5 de junho de 2009

Outros infernos


O Inferno, tal como é descrito
em certos livros, com gravuras
terríveis, a cores, já ninguém
lhe pega, é gracejos de palhaços
para entreter a malta. Mesmo o amor
que já foi inferno, quando Petrarca
e Dante viam Beatriz e Laura na cama
com outros gajos – se não viam,
então ouviam –, mesmo o amor perdido,
afinal tão perto do Paraíso
enquanto se teve a ilusão de que o beijo
é um exorcismo capaz de assustar
o anjo exterminador, mesmo esse,
é um inferno excelente para os jornais.
Chateia que se farta, faz chorar
às vezes e bota-se fora, já não dói.
Há os que acham tesouros a sonhar,
outros vêem-se belos e até príncipes.
São contos de fadas lidos a dormir.
No entanto, há infernos sérios,
pavorosos, como o vento, ciclónicos,
não cabem nos livros, ninguém os pinta.


Arménio Vieira

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