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9 de abril de 2008

(o resto da minha alegria) dois

meu amor inventado
ainda assim tanto demoras

quantas vezes te inventei
ao pé das
águas do lago e
imaginei que me empurravas
ladeira abaixo para
enfim
morrer de amor

é a luz que nos sorve
as sombras como só os
anjos são claros, mas eles
nunca o saberão, ai amigo
escureço agora e se
me enjeitas quem me
vestirá de morta

também para que me
sepultes como semente
e nunca como uma flor
porque sei que tudo
me diz bem venda ao
mundo inteiro enquanto
parto

terás de perdoar a
tristeza do meu corpo, ele
não entende o que estou
a fazer

e se alguma vez me
vires nos teus sonhos
sacode-me a terra ao coração

depois
pensas em mim como
alguém que vive no
futuro
e não temas mais nada

a morte é um milagre
abrirá sobre ti como caminho meu

chegarás, sei-o, depositado
sobre mim como um hábito
ou algo a comer

e em nenhum
túmulo caberá a
minha alma, vazarei
pelos tamanhos remediada
com a solidez das coisas
que te tocarem

como se os mortos florissem
inclinarei o pé à tua
passagem se em sorte estiveres
perto, não me enganarás
e não te enganes também com
as frondosas pétalas,
sente a minha pele no odor
atípico do girassol e não
me abandones mais

e faz-me sempre assim,
empoleirada nos telhados
a enganar os girassóis

não é sobre a solidão,
pouco me importa quem me
desviou palavra, é sobre
a tua ausência no lugar
íngreme da minha pele, por isso
cairei implume telhado abaixo
debulhada no coração

agora eu era linda outra vez
e tu existias e merecíamos
noite inteira um tão grande
amor

agora tu eras como o tempo
despido dos dias, por fim
vulnerável e nu, e eu
era por ti adentro eternamente

lentamente
como só lentamente
se deve morrer de amor

abençoo-te para sempre
e é assim que morro, corajosa
a escrever um livro de
amor sem chorar


valter hugo mãe
"o resto da minha alegria"

1 comentário:

Naide disse...

Onde posso encontrar esse livro? Há meses procura, mas não encontro... Obrigada.
Naide