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18 de novembro de 2006

Luandino não pára




Definitivamente… Luandino Vieira já não pára.

A 23 de Novembro corrente será lançado o álbum ilustrado, infanto-juvenil, A Guerra dos Fazedores de Chuva com os Caçadores de Nuvens, Guerra para Crianças.


«Uma estória de guerras, para crianças. Estória e não história, porque a narrativa é como um mussosso tradicional angolano. E as guerras são o confronto da natureza com a tecnologia. Ou dos donos da terra com os de fora da terra. Ou dos invadidos com os invasores. Dos oprimidos com os opressores.
A solução deste conflito vem da natureza quando os jacarés tomam partido. Ouçamos, no final, a fala do grande chefe Kibaia:
«Disse: Só as crianças podem ser ao mesmo tempo vítima, testemunha, juíz e carrasco;».

E, como uso em fecho de narrativa para crianças, uma moral: na dúvida, sempre a favor dos oprimidos.»

fonte:

3 de novembro de 2006

Até ao Sabugo

Dão outros, em verso, outras razões,
Quem sabe se mais úteis, mais urgentes.
Deste, cá, não mudou a natureza,
Suspensa entre duas negações.

Agora, inventar a arte e maneira
De juntar o acaso e a certeza,
Leve nisso, ou não leve, a vida inteira.
Assim como quem rói as unhas rentes.



José Saramago
“Os Poemas Possíveis”


Retrato do Poeta Quando Jovem

Há na memória um rio onde navegam

Os barcos da infância, em arcadas

De ramos inquietos que desprezam

Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado

No silêncio da lisa madrugada,

Ondas brandas se afastam para o lado

Com rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,

À hora que mais conta duma vida,

Um acordar dos olhos e do tacto,

Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto

Que do fundo rompeu desta memória,

E tudo quanto é rio abre no canto,

Que conta do retrato a velha história.


José Saramago
“Os Poemas Possíveis”

Amanhecer na Katumbela

Ao João Maria Vilanova
- ao nosso reencontro


Kukiou o dia
no canto de um passarinho do muxitu
Ouvi

e sem depressa
como quem sonha inda

vi

no Katumbela rio-sacarino
minha mangonha
canoa nas águas lentas
A sensação
de nenhum tempo

Estar

E olhei a planície o vale
lugar onde o canavial é dono
é posse
o seu silêncio
coisas homens
numa canção de abandono

E não ouvi demais
que o canto da madrugada
tinha a voz murmúrio de kaxexe

Apenas e
lentamente
renascia em mim um novo sono

Então com de repente
despertei


Arnaldo Santos
"Poemas no Tempo"

2 de novembro de 2006

Arnaldo, Luandino e Saramago

A Editorial Caminho acaba de editar três obras de autores de Língua Portuguesa, disponíveis nas livrarias portuguesas a partir de 9 de Novembro.




De Rios Velhos e Guerrilheiros - O Livro dos Rios
de José Luandino Vieira


“Primeiro volume de uma trilogia subordinada ao título De Rios Velhos e Guerrilheiros, nele reencontramos a «voz» inconfundível do autor na quebra da sintaxe convencional, na presença de neologismos, na incorporação de expressões em quimbundo, para mencionarmos apenas algumas das marcas essenciais da escrita e da obra de José Luandino Vieira. Contenção e transbordamento – o rio e as suas margens – reflectem-se nestas páginas em que se projecta a história recente de Angola, mas não só. É também de outras crises que O Livro dos Rios se ocupa, abismos de contemporaneidade e problemas que desde tempos imemoriais têm envolvido o homem e mobilizado os grandes escritores.”

O restante da trilogia:
II O Livro dos Guerrilheiros
III O Livro de Ela e os Velhos



O Vento que Desorienta o Caçador
de Arnaldo Santos


“Apanhado de surpresa entre dois factos que representam uma ruptura na história do povo angolano independente (o Acordo de Bicesse, entre o MPLA e a UNITA, e as primeiras eleições multipartidárias), um grupo de jovens, sobreviventes de uma longa guerra, procura o modo de fazer face à incerteza que se instala nesse momento.
De origens diversas, de experiências diferenciadas, todos sentem, porém, que a solução para as suas vidas futuras se jogará naqueles momentos de pausa. O sentido mais agudo é, assim, o da urgência. Embarcam então no que, ao tempo, se perfilava como uma solução imediata: o garimpo de diamantes, a camanga...
Motivações, intrigas e pressentimentos iluminam essa urgente busca de riqueza como salvação de suas vidas soltas repentinamente pelo cessar da guerra. Mas no interior das personagens vai-se desenvolvendo também o inevitável confronto das suas acções com as suas consciências, das suas necessidades com seus valores.
O Vento Que Desorienta o Caçador é, afinal, o desatado vento da História soprando, indiferente, sobre a efémera vida dos homens.” José Luandino Vieira


As Pequenas Memórias
de José Saramago


As Pequenas Memórias é um livro de recordações que abrange o período entre os quatro e os quinze anos da vida de José Saramago. O autor tinha As Pequenas Memórias na cabeça há mais de 20 anos, por isso a altura para o escrever era esta: "Queria que os leitores soubessem de onde saiu o homem que sou".

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