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14 de janeiro de 2011

Debates no "Correntes d'Escritas"

publicação original
12.02.2007
[url] http://angolaharia.blogspot.com/2007/02/debates-no-correntes-descritas.html



As mesas de debate do 8º “Correntes d’Escritas” tocaram pontos diversos da relação entre a Literatura e as outras Artes:

Mesa 1
Uns pelos Outros
Moderador: João Rodrigues.
Participantes: Fernando Lopes, “É muito difícil conciliar paixões e o cinema e a literatura são duas grandes paixões na minha vida”; Lídia Jorge, “A literatura vive de imagens infinitas e o cinema de imagens finitas… o cinema acaba por ser um espaço de liberdade menor, sendo nesta infinitude finita que se joga o diálogo entre a escrita e o cinema”; Margarida Cardoso, “Há todo um universo que nós, os cineastas já não dominamos e há também formas muito diferentes de ver cinema, de ver imagens e de interpretar conteúdos que nos escapam e que condicionam as abordagens a esta arte.”; Marco Martins, “ Da colisão destes dois mundos diferentes (escritor e realizador) só pode sair um bom filme”; Luís Carlos Patraquim, “O roteirista escreve e depois vem o realizador e faz um outro roteiro sobre a sua obra e este é o preço da passagem da linguagem escrita para a linguagem cinematográfica”.

Mesa 2
A Poesia é um segredo dos deuses ?”
Moderador: Alberto Serra.
Participantes: Ramiro Fonte, “Os deuses estão ausentes do território da poesia moderna”; Nuno Rebocho, “A poesia é um acto de falar alto”; Carlos Quiroga, “Estamos carregados de enigmas…” mas o poeta tem “uma capacidade olímpica de tocar nos sensores das almas”; António Cícero, sendo um fenómeno humano, a poesia não é entendida pelos deuses “porque se encontram longe deles”.

Mesa 3
Palavras no Palco
Moderador: Pedro Eiras.
Participantes: Ana Benavente, “A palavra é acção. Nunca dizemos nada por acaso ou para nada dizer… as palavras somos nós e aquilo que delas fazemos”; Maria do Céu Guerra, “O texto teatral é o mais preguiçoso de todos, porque é aquele em que encenadores e actores têm tanto ou mais que fazer do que o próprio autor.”; Jacinto Lucas Pires e Jaime Rocha.


Mesa 4
É escritor quem tropeça nas Palavras
Moderador: José Carlos de Vasconcelos.
Participantes: Maria Manuel Viana, a busca da frase, da expressão e o constante desencontro entre o pensado e o escrito; Eduardo Brum, é escritor quem tropeça nas palavras, em si mesmo, nos outros e nos pensamentos; Ignacio Martinez de Pisón, não é necessário usar muitas palavras para se dizer algo simples; Lázaro Covadlo, nunca teve consciência de tropeçar nas palavras, mas esbarrou nelas e quando não esbarra com a palavra que pretende inventa-a; Laura Esquível, também não tropeça nas palavras, mas choca com elas.
A encerrar este debate os componentes da mesa e a plateia declamaram, em conjunto, o poema “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Mesa 5
Poesia: o Limite das Palavras
Moderador: Luís Adriano Carlos, “Este é um tema vastíssimo, que pode ser perspectivado de 1001 maneiras”.
Participantes: Aurelino Costa, ”Nesta era da comunicação pode não se dizer nada… As palavras podem tornar-se um utensílio de entretenimento… houve um tempo em que os humanos se falavam em vez de comunicar”; Eucanãa Ferraz, “O poema é mais belo quando não perde de vista a sua humanidade… o poema talvez seja mesmo o limite do humano”; Fernando Pinto de Amaral, “Não há uma separação entre a linguagem conotativa e denotativa… nesses sentidos, os limites não existem”; João Luís Barreto Guimarães, as palavras não têm limite, pelo menos no que respeita ao seu significado; Luís Rafael Hernández, “As palavras são mal usadas, perdem força, perdem realidade. Há que as limpar e devolver-lhes o seu significado primário”.

Mesa 6
O Risco das Palavras
Moderador: Perfecto Cuadrado, lembrou Mário Cesariny que, aos 60 anos, abandonou a escrita para se dedicar à pintura; a razão que o próprio Cesariny lhe deu para esta mudança: “ é que a palavra prende muito, torna-nos dependentes dela, enquanto que a pintura flui com mais liberdade”.
Participantes: Vergílio Alberto Vieira, “Escrever é pormo-nos permanentemente em risco”; Ana Paula Tavares, os desenhos em areia dos Tchokwé de Angola, ilustram a perfeita ligação entre os riscos e a palavra; Zulmiro de Carvalho, o desafio do primeiro risco é o ponto de partida para a criação de uma obra; Henrique Cayatte, “Com as novas tecnologias perdemos, cada vez mais, o contacto com o desenho do risco: tanto os artistas gráficos como os escritores, que deixaram de desenhar as letras”; José Rodrigues, palavras e riscos são formas de comunicar e o risco uma forma primordial de linguagem.

Mesa 7
Apenas à Literatura é dada Esperança"
Moderador: Onésimo Teotónio de Almeida.
Participantes: Amalia Decker Marquez, “A palavra pode mudar o mundo”; Santiago Roncagliolo; Hélia Correia, “A literatura tem-nos feito algum bem, mas normalmente a leitura é mais perniciosa”; Rui Zink, “Eu encontrei sempre esperança em textos desesperançados, é o paradoxo da literatura"; Enrique Vila-Matas.

Mesa 8
Letra & Música
Moderador: Victor Quelhas, a importância do silêncio para a música.
Participantes: Ivo Machado, "Sempre tive uma má relação com a música. No carro não ouço música e nem escrevo com música, mas ouço-a nos sons da natureza"; Manuel Freire, “ A minha experiência é a de leitor de poesia, desde muito novo, que mais tarde se depara com a música feita a partir de poemas”; Sérgio Godinho, “ Tanto a música como o discurso se fazem de silêncios e os silêncios geram expectativas.”; Vitorino, "Canto muitas vezes com grupos de música alentejana, uma música rural, de gente simples, mas onde os silêncios são usados com uma sabedoria única"; Manuel Rui, "No romance são palavras para serem lidas, enquanto que num poema as palavras podem ser filtradas pela música".

Mesa 9
Literatura: o eco dos dias
Moderador: João Gobern.
Participantes: Elsa Osório, “O importante na literatura é a verosimilhança e não a verdade”; Inês Pedrosa, “A literatura é o contrário do eco dos dias… é uma espécie de máquina que côa o que dos dias sobra”; Onésimo Teotónio de Almeida, a Internet põe-nos em contacto mais rapidamente com um amigo do outro lado do mundo do que nós próprios com o vizinho do lado; José Manuel Fajardo, “Há um eco com que poucas vezes se conta: o silêncio”; Hélder Macedo, “A literatura tem um som próprio, que pode influenciar a percepção daquilo a que chamamos real”.


admário costa lindo

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